1.
trilhos trilhos trilhos
sou um homem a caminho do trabalho
na plataforma da estação
o vento sopra nas minhas costas
estampa a paisagem
diante dos meus olhos:
céu
postes
pontas
dos dois lados da ponte
homens e automóveis
tentam a travessia
2.
trilhos
trilhos
trilhos
na plataforma da estação
o vento
dobra esquinas nas minhas costas
o rio
é uma língua de água negra
dentro
dos meus olhos
por onde quer que eles se metam
veem antenas
guindastes
peças
enferrujadas
à espera
de uma improvável reposição
3.
a caminho do trabalho
sou um homem entre outros
na plataforma
— osasco
ou jurubatuba?
osasco ou jurubatuba? —
alguém me pergunta
enquanto o expresso aponta
vertiginosamente
na estação
não importa
vou tomar esse trem
pela última
primeira
vez
ainda não fiz cinquenta anos
dá tempo de mudar alguma coisa
Alberto Martins, in: Em trânsito. Ed. Companhia das Letras
Nenhum comentário:
Postar um comentário