sábado, 6 de fevereiro de 2021

Dobra

Vivian Maier
Meu corpo acostumou-se com o pouco 
e minha alma caminha. 

Tudo é ruína, 
nada me dói, 
não há angústia, 
mas algo se instala e me olha do alto 
na torre clara: 
uma face de vento 
desfeito de brisa. 

Quero tão pouco e de nada sorvo 
e olho submersa o mundo entorno 

Mas, nesta casa de Água, 
tudo se dissolve e nem o rastro sobra 
na bruma da Água nebulosa.

Vivo com os corais que levo dentro. 
Comigo o vento alto de maresias. 

Sim, cabe o mundo no silêncio 
sobresi dobrado de qualquer búzio.

Lívia Natália, in: Correntezas e outros estudos marinhos, Edição da autora

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