segunda-feira, 30 de novembro de 2020

O amor

o amor é feito bala perdida 
que acerta um desavisado 

ao cruzar a rua 
ao dobrar a esquina 

às vezes vem num soco 
às vezes vem num grito 
o amor às vezes é isso 

uma panela de água fervendo 
no rosto de alguém querido 

às vezes esmola 
às vezes migalha 

que se devolve com um tiro 
ou acaba em facada 

o amor tem medo da vida 
uma hora eleva 
na outra arrasta 

desconfia da sorte 
tem medo da falta 

o amor corresponde à entrega 
com uma rasteira e às vezes mata 
de tirania 
de asfixia 
de ciúme 
de raiva 

como alguém que se alimenta 
e de repente engasga 

Luna Vitrolira, in: Quando a delicadeza é uma afronta / Cult: Antologia poética

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