quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Quatro da madrugada


Janet Delaney

Hora entre a noite e o dia.
Hora de um lado para o outro.
Hora para os trintões.

Hora arrumada para o galo cantar.
Hora em que a terra nos repudia.
Hora em que o vento de estrelas extintas assobia.
Hora do será-que-de-nós-nada-vai-restar.

Hora vazia.
Surda, vã.
O fundo de todas as outras horas.

Ninguém se sente bem às quatro da madrugada.
Se as formigas se sentem bem às quatro da madrugada
— felicitemos as formigas. E que soem as cinco
se é para continuar vivendo.
 
Wislawa Szymborska, in: Para o meu coração num domingo. Ed. Companhia das Letras

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