quarta-feira, 15 de junho de 2011

Despedidas

Katia Chausheva
Tudo o que sobrevive a sua partida me dói. Doem as pernas, a carne, os ossos; dói o sol, que insiste em acariciar a minha pele, e iluminar, iluminar, iluminar; doem os dias e as horas e as horas mortas dos dias, que são quase todas; doem os carros que atravessam o sinal verde e me dão sustos que me levam ao chão. Celular, chaves, livro e bolsa espalhados. Eu espalhada. O asfalto de janeiro. O asfalto banhado por uma água insistente. É que essa chuva; é que essa vida; é que essa eu. E essas folhas que se movimentam lentamente e brotam; e essas árvores que estão florindo; e toda essa inútil beleza.

Não pára de chover e: a cidade enche; as ruas enchem; e eu agarrada as suas palavras, como um náufrago,
que
não
acredita
em
terra firme,
resisto.

Daniela Lima

5 comentários:

  1. A realidade momentânea de uma poetisa triste, a tristeza pode ser bela. Um abraço, Yayá.

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  2. Amei, descreveu meu momento, minha vida, sim.

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  3. Que emocionante...

    Eu sou chorona por natureza, se tratando de despedidas então...

    nem comento :}

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  4. é lendo esse post q tenho a certeza de q a despedida é necessária, principalmente para a libertação íntima de cada um de nós.

    grande abraço.

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