Assim foram pelos dias, que não eram muitos mais. Quatro, cinco, nem uma semana. Caminhavam descalços na areia, à noite, à beira-mar - juro. Devagar, as mãos se tocavam: a tua é tão longa, a tua tão quadrada. Ele não queria entrar noutra história, porque doía. Ela não queria entrar noutra história, porque doía. Ela tinha assumido seu destino de Mulher Totalmente Liberada Porém Profundamente Incompreendida E Aceitava A Solidão Inevitável. Ele estava absolutamente seguro de sua escolha de Homem Independente Que Não Necessita Mais Dessas Bobagens De Amor. Caminhavam assim, lembrando juntos de bossa-nova. Ela imitava Nara Leão: se-alguém-perguntar-por-mim. Ele, Dick Farney: pelas-manhãs-tu-és-a-vida-a-cantar. Nada sabiam de punks, darks, neons, cults, noirs. Eram tão antigos caminhando de mãos dadas naquela areia luminosa, macia de pisar quando os pés afundam nela lentamente. Carne de lagosta, creme, neve. Tão bom encontrar você, um cantinho, um violão.
Caio Fernando Abreu, in: Os Dragões Não Conhecem o Paraíso. Ed. Companhia das Letras
Caio Fernando Abreu, in: Os Dragões Não Conhecem o Paraíso. Ed. Companhia das Letras
musicalmente boa.
ResponderExcluiresse amor, uma canção...
ResponderExcluirUM dos meus contos favoritos do Caio, aliás, 'Os dragões n/conhecem o paraíso' é um livro especial pra mim, pq o tenho autografado pelo próprio...
ResponderExcluirBj*
Que gostoso :}
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