sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Canção da voz em mim

O poema abre suas câmaras de sombra:
é o tempo secreto.
Vai brotar agora mesmo a palavra exata,
a chave da minha ideia,
a moldura de minha alma desencontrada.
Não sei a forma das palavras
nem o ritmo dos sons, mas o que tenho a dizer
quer nascer de mim e se retorce.

Sento-me diante do silêncio
como junto de meus mais belos sonhos:
meus pés, minhas mãos, os meus cabelos
estão enredados nessa teia.
Quero sair, repousar e esquecer.

Mas o poema insiste
com a estranha sedução da minha infância.

Lya Luft, in: Secreta Mirada. Ed. Mandarim

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