terça-feira, 28 de julho de 2015

a mulher quer

Jayson Carter
a mulher quer ser amada
a mulher quer um cara rico
a mulher quer conquistar um homem
a mulher quer um homem
a mulher quer sexo
a mulher quer tanto sexo quanto o homem
a mulher quer que a preparação para o sexo aconteça
                                                                       [lentamente
a mulher quer ser possuída
a mulher quer um macho que a lidere
a mulher quer casar
a mulher quer que o marido seja seu companheiro
a mulher quer um cavalheiro que cuide dela
a mulher quer amar os filhos, o homem e o lar
a mulher quer conversar pra discutir a relação
a mulher quer conversa e o botafogo quer ganhar
                                                          [do flamengo
a mulher quer apenas que você escute
a mulher quer algo mais do que isso, quer amor, carinho
a mulher quer segurança
a mulher quer mexer no seu e-mail
a mulher quer estabilidade
a mulher quer nextel
a mulher quer ter um cartão de crédito
a mulher quer tudo
a mulher quer ser valorizada e respeitada
a mulher quer se separar
a mulher quer ganhar, decidir e consumir mais
a mulher quer se suicidar

Angélica Freitas, in: Um útero é do tamanho de um punho. Ed. Cosac Naify

sábado, 25 de julho de 2015

A Luciano Alabarse

Giorgio Barrera
SP 18.07.1989

Luciano, querido,
mal tenho tido tempo pra mim mesmo. Ginásticas pra sobreviver, um livro novo querendo nascer (será que consigo?) e coisas e pessoas e a vida girando meio rápido demais. Tento ficar em casa, às vezes consigo. Hoje, por exemplo. Acaba de anoitecer, tô ouvindo blues com conhaque, flores amarelas, uma foto de James Dean. Tudo em volta tão calmo, mas tão calmo e eterno como se Nara Leão nem tivesse morrido. Ando digamos que feliz, mas tão só e às vezes um pouco frágil. Acabo de sair de um “vírus inespecífico”, parecia hepatite, não era. A médica diz que a cidade tá toda assim, envenenada, virulenta. E você já viu The dead, de John Huston? E A outra, de Woody Allen? Já leu As horas nuas da Lygia? E aprendeu o refrão de Beco’s blues, de Raul Ellwanger, com a Flora? Ando bem, meu amigo. Uma certa fama “excessiva” que é um verdadeiro lixo, te expõe as najices inacreditáveis. Mas fico em casa, de salto bem alto, gardênia no decote e luvas de canos longos, bem sophisticated lady. Trabalho e trabalho e não paro. Gosto do céu azul de inverno, rezo toda noite e repito como é bom, como é bom, Senhor, poder tocar um instrumento. Quando apareces para matarmos esta saudade? Beijo grande do seu,
 
Caio F.

Caio Fernando Abreu, in: Cartas. Org. Italo Moriconi. Ed. Aeroplano