segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Pour mémoire

Não me toques
nesta lembrança.
Não perguntes a respeito
que viro mãe-leoa
ou pedra-lage lívida
ereta
na grama
muito bem-feita.
Estas são as fazes da minha fúria.
Sob a janela molhada
passam guarda-chuvas
na horizontal,
como em Cherbourg,
mas não era este
o nome.
Saudade em pedaços,
estação de vidro.
Água
As cartas
não mentem jamais:
virá ver-te outra vez
um homem de outro continente.
Não me toques,
foi minha cortante resposta
sem palavras
que se digam
dentro do ouvido
num murmúrio.
E mais não quer saber
a outra, que sou eu,
do espelho em frente.
Ela instrui:
deixa a saudade em repouso
(em estação de águas)
tomando conta
desse objeto claro
e sem nome.

Ana Cristina Cesar, in: A Teus Pés. Ed. Ática

Um comentário:

  1. querida, encomendei o "poética" da ana c na livraria cultura. nas compras online você ganha de brinde um edição fac-similar do livretinho que ela lançou de forma alternativa "poesia completa". vale super a pena. estou ansiosíssimo.

    beijão ;)

    ResponderExcluir