sexta-feira, 22 de novembro de 2013

COMUNICAÇÕES

Ego, 2012. MariAn [the Fog]
Eu falo de mim – daqui –
desta central
pelo microfone do corpo
por esse fio que vem do fundo
eu me irradio

assim, numa transmissão de
sustos e rangidos
veia e voz, ao vivo, sob tanto
sangue: pantera escarlate
que passa e pisa

e se espatifa nesse chão
pata de lacre
grito, pingo sobre o alvo
tão tátil da minha carne
nos panos

repentinos do meu espanto
nas janelas
onde me debruço sucessivo
e vário, sequência de mim
em fotonovelas

me desdobro – quadro por quadro
nos desenhos
de dentro do que sou e projeto
aos poucos, plano e pausa
para fora

com a vida que me veste
pelo avesso:
filmes de sêmen onde publico
figuras de suor e celulóide
numa lâmina

de velocidade e de lembrança
em fotogramas
de esperas e procuras – falha
folha de slides-células, sopro
e pulso

página de pele em que escrevo
o uso
a articulada letra do meu gesto
o rascunho de unhas e rasuras
feito à unha

nas nuas marcas do meu corpo
no espaço
e nos lençóis da claridade
monograma, silhueta, cadência
e a fala

que se imprime nesta fita
neste sulco
a linguagem como um fim
a linguagem por um fio
e a morte em morse.

Armando Freitas Filho, in: De corpo presente, 1975. Coleção Poesia Viva

2 comentários:

  1. lendo esse lindo poema do armando freitas filho, lembrei da emoção e expectativa que estou tendo pelo lançamento de "Poética" da Ana Cristina Cesar, já encomendei o meu e tô super feliz. rs <3 abração, querida.

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