domingo, 16 de junho de 2013

Palavras

Rebecca Rebouché
Palavra dentro da qual estou a milhões
de anos é árvore.
Pedra também.
Eu tenho precedências para pedra.
Pássaro também.
Não posso ver nenhuma dessas palavras que
não leve um susto.
Andarilho também.
Não posso ver a palavra andarilho que
eu não tenha vontade de dormir debaixo
de uma árvore.
Que eu não tenha vontade de olhar com
espanto, de novo, aquele homem do saco
a passar como um rei de andrajos nos
arruados de minha aldeia.
E tem mais: as andorinhas,
pelo que sei, consideram os andarilhos
Como árvore.

Manoel de Barros, in: O Fazedor de Amanhecer. Ed. Salamandra

2 comentários:

  1. Só poderia ser fazedor de amanhecer! Risos. Lindo...

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  2. Ah que saudades estava daqui *.*

    Lindo amanhecer!

    Beijos!

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