quarta-feira, 20 de março de 2013

In Memoriam

Mariya Kozhanova
Sugiro que Wislawa
tenha fumado no hospital
e dito – daria tudo
por um  café, e alguém
com uma almofada apoiaria
sua cabeça,  e ela
 pensaria  em dizer
que não perdeu ainda a cabeça,
mas não  diria, não era
preciso, e ela, sorrindo,
 sabia  desde  o começo,
o algodão do estofo da cama
o soro, os aparelhos,
 ao rés da música abrindo
lá fora alguns pássaros
na alva da janela,
olharia a relva sem olhar
para trás, para os civis
(apenas pra moça de xale
que alimentava as pombas)
sentava num banco, elegante,
esperava, esperava
e tomava seu café
como quem abraça um amigo.

Raul Macedo

5 comentários:

  1. clandestina, carinhosa a memória como se abraçasse o amigo.beijo, patrícia.

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  2. Você sabe informar se o blog dele mudou de endereço? Eu tentei encontrar, mas só encontrei esse link: http://raul-macedo.blogspot.com.br/

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  3. Que triste. Realmente lamento. Esse foi o primeiro poema que eu li dele, que eu me lembre. E gostei bastante. Achei outras coisas dele pela net e gostei mais ainda. Pelo menos a poesia dele permanecerá, só os poetas são imortais.

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  4. Jorge, ele fechou todos os blogues, mas você poderá encontrar (quase) tudo aqui: http://www.ellenismos.com/p/toda-poesia-raul-macedo.html

    E ainda este ano publicaremos sua Poesia Reunida.

    Abraços,

    Nina

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