Bradley Walker Tomlin
Sempre o menor ato possível
neste tempo de atos
maiores que a vida, um gesto
com o que passa
apenas sem ser visto. Um vento parco
perturbando uma fogueira, por exemplo,
que encontrei outro dia
acidentalmente
na parede de um museu. Apenas
nada: alguns retalhos
de branco
lançados ao acaso contra o negro rotundo
do fundo, somente
um gesto parco
tentando não ser
mais do que é. E mesmo assim,
não está aqui
e a meus olhos jamais será questão
de tentar
simplificar o mundo
mas uma maneira de buscar um lugar
pelo qual entrar no mundo, uma forma de estar
presente
entre as coisas
que não nos querem - mas que necessitamos
na medida em que nós necessitamos
de nós mesmos. Faz apenas um instante
que a bela
mulher
que estava junto a mim
me havia confessado o quanto desejava
um filho
e como o tempo
começava a lhe faltar. Resolvemos
escrever cada qual um poema
usando as palavras "um vento
parco
perturbando uma fogueira". Desde então
nada
tem significado tanto como o pequeno
ato
presente nestas palavras, o ato
de tentar dizer
palavras
que apenas dizem nada. Até o final
quero igualar-me
a quanto o olhar
me traga, como se
no fim pudesse me ver
liberto
nas coisas
quase invisíveis
que nos conduzem junto a nós e todos
os filhos não nascidos
no mundo.
Paul Auster (Ao olhar um quadro de Bradley Walker Tomlin) / Tradução de Raul Macedo
Nenhum comentário:
Postar um comentário