Despertas. Esqueceste o último sonho. Mas junto dos lábios ficou talvez o seu leve indício e é tudo o que resta. Fecharam-se mais uma vez os olhos para que neles se torne maior um lugar para a dúvida. Já não são tuas sequer essas imagens distantes, humedecidas. Mas há qualquer coisa ali que permanece ao teu alcance. Caminhas devagar para ela e queres conhecê-la melhor. Alguém responde: “Não é nada”. A palavra chegava ao teu espírito e aí permaneceu como se olhasses ainda a noite que se dissipa. Sentias-te um pouco mais frágil e de novo a escuridão veio ao teu encontro. É assim que fica perdido o sentido de tudo para sempre. Uma pétala caiu sem ruído, e sabes a que rosa pertence. Mas esta não existe.
Fernando Guimarães
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