Silvia Sala
Sampa, 15.02.82
Levíssima¹:
Taí o Strindberg. Olha: o tamanho é por volta de 40 linhas de 70 toques,
portanto duas laudas. Claaaro que pode ser duas e meia. Espero que te guste. Para
que eu não enlouqueça muito, gostaria que você me entregasse lá pelo dia 22
(próxima quinta, após o feriado de quarta). Ou então 26, que é a segunda seguinte.²
Esqueci de te falar ontem que vi o Bastidores, tava lá em Campinas, chez
Hilda Hilst. Gostamos mucho. Guria, como tu é segura, chê! Parece que nunca fez
outra coisa na vida a não ser dar entrevistas na tevê. Maravilha.
Uma novidade boa: meus Morangos mofados tão saindo mês que vem (o das
noivas, maio). Aguarde breve convite para ti-ti-ti de lançamento. Ia te mandar o
livro hoje de manhã, mas acabei não vindo trabalhar. Ontem à noite fui ver A
mulher do lado, de Truffaut, dei umas boas choradas (é liiiindo e amaaaaargo), saí
meio down e acabei tomando uns vinhos talvez além da conta.
Sinto saudade docê, todos os dias. Vai um cheirinho de alecrim e muito
carinho. Seu,
Caio, o Fernando Abreu
¹ Os apelidos “Levinha” e “Levísisma” vêm dos 42 quilos que Maria Adelaide pesava quando Caio a conheceu.
Nas palavras de Maria Adelaide, ele era muito magro, mas um dia a pegou ao colo e descobriu que ela não era
magra, era levíssima.
² De novembro de 1981 a junho de 1982, Caio foi editor do periódico literário Leia Livros, de São Paulo. Aqui
ele encomenda a Maria Adelaide uma resenha sobre Inferno, do dramaturgo sueco Strindberg.
Caio Fernando Abreu, in: Cartas. Org. Italo Moriconi. Ed. Aeroplano
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