Era a primeira vez que a tristeza adquiria um corpo e escorregava como areia dentro da ampulheta. A tristeza era uma caixa guardando pequenos objetos, botões, agulhas, linhas. Se me virasse para a direita, eles se movimentavam para este lado. Se me virasse para a esquerda, eles também se deslocavam. Só não sabia como inverter o processo, o que faria para preencher o vazio quando a areia terminasse. Porque aí já não seria uma questão de direita ou esquerda. Seria uma questão de manter-me em pé, em ângulo de gravidade. Antes, a angústia era uma nuvem, um fantasma que pairava como o éter. Era a primeira vez que o sentimento adquiria um corpo, um estado sólido. Acho que a tristeza evoluiu.
Célia Musilli
Muito grata por publicarem meu texto em espaço tão delicado. Um bj
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