Rebecca Rebouché
O dicionário dos meninos registrasse talvez
àquele tempo
nem do que doze nomes.
Posso agora nomear nem do que oito: água,
pedras, chão, árvore, passarinhos, rã, sol,
borboletas...
Não me lembro de outros.
Acho que mosca fazia parte.
Acho que lata também.
(Lata não era substantivo de raiz moda água
sol ou pedras, mas soava para nós como se
fosse raiz.)
Pelo menos a gente usava lata como se usássemos
árvore ou borboletas.
Me esquecia da lesma e seus risquinhos de
esperma nas tardes do quintal.
A gente já sabia que esperma era a própria
ressurreição da carne.
Os rios eram verbais porque escreviam torto
como se fossem as curvas de uma cobra.
Lesmas e lacrais também eram substantivos
verbais
Porque se botavam em movimento.
Sei bem que esses nomes fertilizaram a minha
linguagem.
Eles deram a volta pelos primórdios e serão
para sempre o início dos cantos do homem.
Manoel de Barros, in: Memórias Inventadas / As Infâncias de Manoel de Barros. Ed. Planeta
esse poeminha me despertou um desejo de Manoel de Barros! Vou começar agora a assistir o Documentário "Só Dez Por Cento", sobre a vida dele, que já tinha aqui guardado há um tempinho.
ResponderExcluirAmo esse dom especial de delirar que ele tem =)
manoel de barros traz à tona um mundo tão visível, mas tão desapercebido, que comove. a caixinha das infâncias inventadas dele é linda.
ResponderExcluirbela escolha.
beijos.