sexta-feira, 6 de julho de 2012

um bom sujeito

recebo telefonemas
demais.
eles procuram
pela criatura.
não deviam fazer isso.

nunca liguei para
Knut Hamsun ou
Ernie ou
Céline.

nunca liguei para
Salinger
nunca liguei para
Neruda.

esta noite recebi
uma chamada:

“olá. você é
Charles Bukowski?”

“sim.”

“bem, eu tenho uma
casa.”

“e?”

“um bordel.”

“entendo.”

“li seus
livros. tenho
um puteiro num barco em
Sausalito.”

“beleza.”

“quero lhe passar o meu
número de telefone. quando
você vier a San Francisco
eu lhe pago um drinque.”

“certo. me passa o
número.”

anotei-o.

“mantemos um negócio de categoria. estamos
em busca de advogados e senadores,
cidadãos da elite, assaltantes,
cafetões, e por aí vai.”

“eu ligo pra você quando
estiver por aí.”

“boa parte das garotas
lê seus livros. elas
o amam.”

“sério?”
“sério.”

nos despedimos.

gostei daquela
ligação.

Charles Bukowski, in: O Amor é Um Cão dos Diabos. Tradução de Pedro Gonzaga. Ed. L&PM

Um comentário:

  1. a poesia de bukowski está grudada no meu coração. incrível como me identifico.

    :)

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