segunda-feira, 23 de abril de 2012

cometi um erro

Charles Bukowski
me estiquei até a última prateleira do armário
e puxei de lá uma calcinha azul
e mostrei a ela e
perguntei "são suas?"

e ela olhou e disse,
"não, devem ser da cadela".

depois disso ela se foi e não a vi
desde então. não está na sua casa.
continuo passando por lá, enfiando bilhetes
debaixo da porta. volto ali e os bilhetes
continuam intocados. arranco a cruz de Malta
do retrovisor do meu carro e a amarro
com um cadarço à sua maçaneta, deixo
um livro de poemas.
ao retornar na noite seguinte tudo
continua ali.

continuo rondando as ruas em busca
daquele encouraçado cor de vinho que ela dirige
com uma bateria fraca, e as portas
pendendo das dobradiças estropiadas.

circulo pelas ruas
a um passo de chorar,
envergonhado de meu sentimentalismo e
possível amor.

um homem velho e confuso dirigindo na chuva
perguntando-se onde a boa sorte foi
parar.

Charles Bukowski, in: O Amor é Um Cão dos Diabos. Tradução de Pedro Gonzaga. Ed. L&PM

3 comentários:

  1. Quem um dia não saiu a procura do seu amor... nem que seja em sonhos ou pensamentos...
    Bjs!

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  2. São suas?

    Vezenquando é melhor não perguntar... :)

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  3. Querida!! Que imensa saudade de ti...
    Passei pra dizer que sinto falta desse acalanto aqui, desse afago no peito que sinto quando me derramo aqui, nas suas escolhas, nos teus pensamentos...
    estou de volta. e dessa vez, espero que por muito tempo.
    um grande beijo

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