Vou de dia para dia, como de estação para estação, no comboio do meu corpo, ou do meu destino, debruçado sobre as ruas e as praças, sobre os gestos e os rostos, sempre iguais e sempre diferentes, como, afinal, as paisagens são.
Se imagino, vejo. Que mais faço eu se viajo? Só a fraqueza extrema da imaginação justifica que se tenha que deslocar para sentir.
"Qualquer estrada, esta mesma estrada de Entepfuhl, te levará até o fim do mundo." Mas o fim do mundo, desde que o mundo se consumou dando-lhe a volta, é o mesmo Entepfuhl de onde se partiu. Na realidade, o fim do mundo, como o princípio, é o nosso conceito do mundo. É em nós que as paisagens têm paisagem. Por isso, se as imagino, as crio; se as crio, são; se são, vejo-as como às outras. Para quê viajar? Em Madrid, em Berlim, na Pérsia, na China, nos Pólos ambos, onde estaria eu senão em mim mesmo, e no tipo e género das minhas sensações?
A vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes. O que vemos, não é o que vemos, senão o que somos.
Fernando Pessoa, in: Livro do Desassossego. Ed. Companhia das Letras
Estou num mar de deleite! Quanta poesia, que coisa bela.
ResponderExcluirUm beijo infinto, infinito. haha
Jeeeeni, Saudade! Que bonita coincidência, estou com este livro e estas últimas palavras tem me acompanhado nesses dias... Lindo!
ResponderExcluirEstou sem poder acessar por uns dias, por isso não a respondi ainda no blog. Beijinho, menina-das-letras.
Minha casa anda meio abandonada, mas te sigo. Adoro este livro.
ResponderExcluirbeijo na alma.