Hoje eu completei oitenta e cinco anos. O poeta nasceu de treze. Naquela ocasião escrevi uma carta aos meus pais, que moravam na fazenda, contando que eu já decidira o que queria ser no meu futuro. Que eu não queria ser doutor. Nem doutor de curar nem doutor de fazer casa nem doutor de medir terras. Que eu queria era ser fraseador. Meu pai ficou meio vago depois de ler a carta. Minha mãe inclinou a cabeça. Eu queria ser fraseador e não doutor. Então, o meu irmão mais velho perguntou: Mas esse tal de fraseador bota mantimento em casa? Eu não queria ser doutor, eu só queria ser fraseador. Meu irmão insistiu: Mas se fraseador não bota mantimento em casa, nós temos que botar uma enxada na mão desse menino pra ele deixar de variar. A mãe baixou a cabeça um pouco mais. O pai continuou meio vago. Mas não botou enxada.
Manoel de Barros, in: Memórias Inventadas / As Infâncias de Manoel de Barros. Ed. Planeta
Manoel de Barros, in: Memórias Inventadas / As Infâncias de Manoel de Barros. Ed. Planeta
Fico feliz em tê-la por lá ;)
ResponderExcluirBeijão =*
Em suma, o nosso Manoel de Barros, tornou-se um grandioso escultor de palavras.
ResponderExcluirA propósito, encontrei um poema na linguagem "manoelez" que, admito, gostaria de te-lo escrito.
Manoel não escreve, contrai árvores e
miudezas – a mudez pequenina das coisas!
Assim é que passarinhos podem pousar
em seus ombros e lhe cantar imagens
com cheiro de sol e chuva
Também assim é que uma borboleta
nunca é, para ele, apenas uma borboleta,
mas um pedaço desengonçado de vento
que, por distração, pegou primavera
em seu primeiro roçar de flor
Manoel faz piquenique com as formigas!
E desenha saborosos domingos
em suas migalhas de festa e fartura...
Manoel desfabrica objetos como
quem descobre o feriado das coisas!
Inventa diapasão para os sapos e faz ainda
metalurgia com o silêncio das pedras
Manoel tem, enfim, um baú onde
guarda um imenso quintal (dizem que,
no fundo, lá brotam pés-de-amanhecer!)
(...)
Pablo Dias Fortes
http://www.redehumanizasus.net/11583-a-gramatica-de-manoel-de-barros
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Embora pareça meio deselegante, optei por desativar os comentários do meu blog até que eu restabeleça um tempo pleno para blogar.
Beijo,
Inês
Voltei para agradecer a gentileza da sua visita.
ResponderExcluirBeijo,
I.
Que delícia ler isso logo cedo. Muito obrigda, Felicidade!
ResponderExcluirManoel de Barros é quase um ser divino. O documentário sobre ele é maravilhoso. Ele diz que comprou o direito de ser poeta. Talvez tenha comprado o direito de ser criança para sempre. Porque toda criança é artista. Com o tempo vao achatando isso em nós, com enxadas ou até mesmo livros. Assim, o artista é aquele que volta àquele estado primeiro. Porque é preciso saber que é melhor assim. É preciso escolher viver deste modo. Hoje ele é um menino. Um menino para sempre. Ele mesmo,um poema. Poemas sao anjos, então. Para sempre.Beijos emocionados.
Renata dos Santos
Muito bom, mesmo: "Eu não queria ser doutor, eu queria ser fraseador" Ai, Manoel...
ResponderExcluirE lindo o poema postado nestes comentários!
Amei essa semelhança, Jeni. Pois acho essas letrinhas bonitinhas, achei que ficou bonito seu blog assim!
ResponderExcluirOra, sou suspeita para falar isso, risos.
Belezura! ^^
ResponderExcluirManoel *__*
ResponderExcluirEsses livros das memórias inventadas de Manoel são lindos!
Ai ai, querer ser fraseador!
Lindo!
Beijos!
:D :D :D
ResponderExcluir...degustador de palavras...
:D :D :D