terça-feira, 8 de novembro de 2011

QUANDO ERA MENINO

Nelo meu filho dizia: a Terra é redonda
e achatada nas pontas, como uma laranja. Eu quero é rodar.
E eu disse: ninguém pode dizer uma coisa dessas. Ninguém
sabe de que jeito é o mundo.
Nelo meu filho dizia:
O homem precisa ser vivo.
E eu disse: - Mas, agora. Então não está todo mundo
vivo? Eu estou vivo.
Ele disse:
É preciso ser vivo para viver.
Ele disse:
O mundo é um carro de boi, que vai rodando para a
frente, gemendo em cima de um eixo.
Eu disse:
O mundo não tem eixo. Ele está parado, nas mãos de Deus.
Ele disse:
A Terra gira.
Eu disse:
Se girasse, a gente caía no chão.
Ele disse:
A Terra gira muito depressa. É por isso que não caímos.
Eu disse:
Se o mundo girasse, todo mundo ficava tonto.
Pensei: a Terra gira como a mão de mamãe, girando a colher de pau dentro do tacho, para fazer sabão. Soda cáustica e água. Sabão serve para lavar a roupa. O que é que serve para lavar a alma?

Antônio Torres, in: Essa Terra. Ed. Record

2 comentários:

  1. Uma única frase: "É preciso ser vivo para viver."


    Fico feliz também com a sua visita, viu? É que eu gosto de mais desse seu cantinho e da forma como você organiza os textos aí se torna meio que um hábito visitar-lhe. Ah, sim... Que legal eu não assimilei é verdade, "Dentro da noite veloz", mas que coisa... não cheguei ainda nas leituras plenas dos versos do Gullar, mas gosto muito dos poucos que conheço...


    E enquanto a Goethe, faz tempo que eu quero ler este livro, pois me interessei desde o principio pela história, mas até hoje não tive oportunidade... e estou atolada em leituras...de mais. Ó, fico feliz por você tê-lo em mãos, lindo!

    Um beijo, menina-de-poesia!

    Bons ventos p/ você, sempre.

    E minhas visitas tem sido mais frequentes por causa que esses dias meus horários de estudo estão desorganizados, mas logo organizarei, terá menos visitas, mas será por uma causa necessária... beijinho, fica bem!

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