segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Coisas concretas

Estou sentada na cozinha, enquanto a massa ferve.

Amo as coisas concretas
descobrir seus nomes ao pequeno-almoço:
despertador, chuva na calçada, supermercado,
beijos na siesta,
um copo de vinho, amigos,
as pequenas mãos de meu filho,
pessoas na praça,
tu...

Elas produzem as mais doces e lânguidas cócegas,
como um banquete após o jejum.
Parece-me impossível afastar-me de tais coisas:
colam-se à minha caneta e parece que não consigo sacudi-las.

No entanto,
as coisas concretas não permitem atrasos,
e a massa já está pronta.
Assim é a vida.
Quando o semear do poema começava a germinar,
eis que o mundano vem intrometer-se.
E lá tenho eu que me levantar da mesa,
enquanto a sombra de um bilioso humor assenta.

Miren Agur Meabe / Tradução de Amaia Gabantxo - Poesia & Lda

4 comentários:

  1. que maravilhoso...
    adoro estes poetas que conseguem fazer e falar da vida real e iluminar os dias em qualquer lugar do planeta.
    Eis mais uma autora que conheço em teu reino, querida Felicidade.
    Obrigada por tantas lindezas.
    Bjxxx darling

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  2. Ah, manda pra mim estas `coisas`????
    Mais bjxxx.

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  3. Incrível, Jeni!

    Muito bom... mesmo, adorei!

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  4. P.s. e a imagem? Sem palavras p/ você. Que nos encanta com tudo - belíssima.

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