quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Girassol

Aquele girassol no jardim público de Palmira.
Ias de auto para Juiz de Fora; a gasolina acabara;
havia um salão de barbeiro; um fotógrafo; uma igreja; um menino
[parado;
havia também (entre vários) um girassol. A moça passou.
Entre os seios e o girassol tua vontade ficou interdita.
Vontade garota de voar, de amar, de ser feliz, de viajar, de casar, de
[ter muitos filhos;
vontade de tirar retrato com aquela moça, de praticar libidinagens,
[de ser infeliz e rezar;
muitas vontades; a moça nem desconfiou...
Entrou pela porta da igreja, saiu pela porta dos sonhos.

O girassol, estúpido, continuou a funcionar.

Carlos Drummond de Andrade, in: Brejo das Almas. Ed. Record

3 comentários:

  1. Tão sensual e sutil esse poema que só poderia ser do mineirinho gauche.

    Bjos! =*

    ResponderExcluir
  2. Delicado e vistoso o poema, tal qual um girassol.

    =*

    ResponderExcluir
  3. Estava relendo, ainda há pouco, seu comentário a uma postagem de meu Música no Elevador. Foi bom voltar aqui. Gostaria que vc conhecesse também meus Rodopios, em esferapoetica.blogspot.com.
    Fique bem.

    ResponderExcluir