quarta-feira, 24 de agosto de 2011

"passeias onde não ando, andas sem eu te encontrar..."

(19.) Percorro o seu corpo, declives e aclives, por meio desta minha fala tão assim. O som das minhas mãos percorrendo você, e eu sendo mordido pelo seu olhar, atraído por reentrâncias de coisas concretas. Mesmo o som de minhas mãos caminhando suas partes é agora som de palavras. Dessas palavras mesmas que, agora, tentando enformar o vazio, darão eixo à carta - sim, a tal carta. A carta que você tanto me pediu, uma carta em que finalmente eu fale de mim e só de mim, sem o meu escorregadio jeito de lidar com as palavras e com a vida, conforme você mesma disse. Mas a coisa é ainda menos. Há tempos que não sei onde você, onde essa carta para mim sempre algo impossível. É. Parece que você, ainda que ausente, não perdeu o hábito insuportável de estar com a razão, sua razão assertiva, tão sua e tão cheia de olhos. Essa é uma carta impossível em si mesma, porque a coisa que menos sei dizer sou eu, coisa sempre agora, coisa olhada ao mesmo tempo que olha. É uma carta impossível em si mesma porque sem destino e sem destinatário.

Wesley Peres, in: Casa entre Vértebras. Ed. Record

5 comentários:

  1. Flor querida,

    "só saudade, só saudade .. ."

    Estou convalescendo de duas cirurgia, por isso o sumiço, mas estou bem graças à Deus! Gostei por demais da mensagem doutro dia.

    Cuide-se.
    Um beijo carinhoso.

    =)

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  2. Hoje venho aqui falar não de sua postagem que á parte fundamental para os comentários mas falar da sua foto no perfil eu amante da imagem... digo: " está linda e retrata a beleza das mulheres que sorriem com seus mistérios e força de encher os olhos!" Um beijo querida!

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  3. lindo,

    uma carta que eu falasse de mim e só de mim..

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  4. Eu também pouco sei dizer de mim...

    Uma das coisas que eu sei é que eu gosto muito das suas escolhas literárias. Lindo post!

    Beijos

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