segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Conclusão

Salvador Dali
Os impactos de amor não são poesia
(tentaram ser: aspiração noturna).
A memória infantil e o outono pobre
vazam no verso de nossa urna diurna.

Que é poesia, o belo? Não é poesia,
e o que não é poesia não tem fala.
Nem o mistério em si nem velhos nomes
poesia são: coxa, fúria, cabala.

Então, desanimamos. Adeus, tudo!
A mala pronta, o corpo desprendido,
resta a alegria de estar só, e mudo.

De que se formam nossos poemas? Onde?
Que sonho envenenado lhes responde,
se o poeta é um ressentido, e o mais são nuvens?

Carlos Drummond de Andrade, in: Fazendeiro do Ar. Ed. José Olympio

2 comentários:

  1. a memória infantil e o outono pobre... :)

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  2. ahhh que belezura de versos drummondianos

    adoro e lambo os beiços

    moça, obrigada!

    Beijos

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