sexta-feira, 29 de julho de 2011

A Maria Adelaide Amaral

Sampa, 4 de março de 1987.

Levíssima, saudade,
aí vai a missiva de Ms Dip. Aproveito para mandar junto uma foto que o Juvenal Pereira tirou de nosotros naquela festa do Raul Cortez. No momento exato em que líamos a mão de Gisela Arantes. Achei engraçada. Você parece estar dizendo qualquer coisa como “Olha, minha filha, falando franco, vai ser muito difícil”, e eu (com meu encantador — e falso — ascendente Libra) suavizando assim “Mas tem uma linha tão simpática aqui no monte da Lua.” Gisela está absolutamente hipnotizada com as nossas profecias.

Também não ando muito animado. Mas voltei a escrever, ou pelo menos a mexer nas gavetas, nos papéis, nos fantasmas. Ando muito só, um tanto assustado, e com a esquisita sensação de que tudo acabou. Ou pelo menos está se transformando — e radicalmente — em outra coisa. E tão vago, não sei sequer dizer do que se trata.

Ah, esta é minha estonteante Praxis 20 — um presente que me dei (pelo menos pralguma coisa aquele Estadão tem que servir, não é, benhê?). Ela ainda não tem nome, aceito sugestões. Mas tem que ser algo na linha eletrônico-cibernéticopós-pós: ela é toda dark, com luzinhas, zumbidos e ares concretistas.
Saudade, again. Y besos muy calientes. Seu,

Caio F

Caio Fernando Abreu, in: Cartas. Org. de Italo Moriconi. Ed. Aeroplano

Um comentário:

  1. ando meio assim, meio sem vontade, achando que tudo também acabou!

    também poderia ter escrito essa carta, não conhecia.

    beijo

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