sexta-feira, 22 de julho de 2011

Ela não consegue definir muito bem o seu sentimento,

não sente ódio, nem repugnância, então talvez se trate de desejo. Não sabe de nada. Consentiu em ir ao apartamento na noite anterior. Está onde precisa estar. [...] Ele está trêmulo. Olha para ela como se esperasse ouvi-la dizer alguma coisa, mas a moça não fala. Então ele também fica imóvel, não a despe, diz que a ama como louco, depois fica calado. Ela não responde. Poderia dizer que o ama. Não diz nada. Subitamente, compreende, num momento, que ele não a conhece, que não a conhecerá jamais. Mesmo com tantos subterfúgios para compreendê-la, jamais conseguirá. A ela compete saber. Ela sabe. [...] Ele diz que está sozinho, terrivelmente sozinho com esse amor. Ela responde que também está sozinha. Não diz com o quê. [...] E chorando realiza o ato. A princípio, a dor. E depois a dor se transforma, é arrancada lentamente, transportada para o prazer, abraçada pelo prazer.

Marguerite Duras, in: O Amante. Ed. Nova Fronteira

4 comentários:

  1. eu simplesmente amo marguerite duras, acho ela fantástica!

    um grande abraço e um ótimo fds!

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  2. Marguerite duras é quase uma necessidade para a minha alma, esse não vai pra fila, viu? rs Já o li... bacio

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  3. Ler e reler este trecho...Vale! O insondável da alma, a presença do corpo.

    Abraços,

    Anna Amorim

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