quinta-feira, 26 de maio de 2011

No centro do furacão - fragmento

Vórtice, voragem, vertigem: qualquer abismo nas estrelas de papel brilhante no teto.

Queria tanto poder usar a palavra voragem. Poder não, não quero poder nenhum, queria saber. Saber não, não quero saber nada, queria conseguir. Conseguir também não - sem esforço, é como eu queria. Queria sentir, tão dentro, tão fundo que quando ela, a palavra, viesse à tona, desviaria da razão e evitaria o intelecto para corromper o ar com seu som perverso. A-racional, abismal. Não me basta escrevê-la - que estou escrevendo agora e sou capaz de encher pilhas de papel repetindo voragem voragem voragem voragem voragem voragem voragem sete vezes ao infinito até perder o sentido e mais nada significar [...] Eu quero sê-la, voragem.

Caio Fernando Abreu, in: Pequenas Epifanias / O Estado de São Paulo, 4/2/1987 / Ed. Agir

Um comentário:

  1. Mas por que??? Em qual sentido? Tá certo que às vezes precisamos disso, mas é bem melhor usar outros meios cobertos de alegria...

    Adorei o blog. Depois visite o meu.
    http://noentusiasmodaspalavras.blogspot.com/

    Bjos!

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