quarta-feira, 4 de maio de 2011

Enfim o que fosse acontecer, aconteceria...

A Hora da Estrela
E por enquanto nada acontecia, os dois não sabiam inventar acontecimentos. Sentavam-se no que é de graça: banco de praça pública. E ali acomodados, nada os distinguia do resto do nada.
Ele: - Pois é.
Ela: - Pois é o quê?

Ele: - Eu só disse pois é!
Ela: - Mas "pois é" o quê?
Ele: - Melhor mudar de conversa porque você não me entende.
Ela: - Entender o quê?
Ele: - Santa Virgem, Macabéa, vamos mudar de assunto e já!
Ela: - Falar então de quê?
Ele: - Por exemplo, de você.
Ela: - Eu?!
Ele: - Por que esse espanto? Você não é gente? Gente fala de gente.
Ela: - Desculpe mas não acho que sou muito gente.
Ele: - Mas todo mundo é gente, Meu Deus!
Ela: - É que não me habituei.
Ele: - Não se habituou com quê?
Ela: - Ah, não sei explicar.
Ele: - E então?
Ela: - Então o quê?
Ele: - Olhe, eu vou embora porque você é impossível!
Ela: - É que só sei ser impossível, não sei mais nada. Que é que eu faço para conseguir ser possível?

Clarice Lispector, in: A Hora da Estrela. Ed. Rocco

5 comentários:

  1. Impossível ser essa possibilidade... Beijos...

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  2. Não faz nada, ser impossível é muito bom.
    Adorei esse trecho de A Hora da Estrela, é fantástico esse livro.
    Beijo.

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  3. Esse filme é terrivel - no sentido desconcertante da coisa.

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  4. huahuahua não conhecia esse... adoreiiiiiii

    Deixei selinho para vc no meu blog.
    Link: http://devaneiosfugazes.blogspot.com/2011/05/mais-carinhos.html

    Beijos.

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