segunda-feira, 28 de março de 2011

Corre, corre. O número do telefone dissolvendo-se em tinta na palma da mão suada...

Ah, no fim destes dias crispados de início de primavera, entre os engarrafamentos de trânsito, as pessoas enlouquecidas e a paranoia à solta pela cidade, no fim destes dias encontrar você que me sorri, que me abre os braços, que me abençoa e passa a mão na minha cara marcada, no que resta de cabelos na minha cabeça confusa, que me olha no olho e me permite mergulhar no fundo quente da curva do teu ombro. Mergulho no cheiro que não defino, você me embala dentro dos seus braços, você cobre com a boca meus ouvidos entupidos de buzinas, versos interrompidos, escapamentos abertos, tilintar de telefones, máquinas de escrever, ruídos eletrônicos, britadeiras de concreto, e você me beija e você me aperta e você me leva para Creta, Mikonos, Rodes, Patmosm, Delos, e você me aquieta repetindo que está tudo bem, tudo, tudo bem. O telefone toca três vezes. Isto é uma gravação deixe seu nome e telefone depois do bipo que eu ligo assim que puder, OK?

Caio Fernando Abreu, in: Anotações sobre Um Amor Urbano - O Essencial da Década de 1970. Ed. Agir

5 comentários:

  1. Obrigado por aceitar a entrevista em um blog que esta no começo dessa grande bloggesfera, bom preciso de um e-mail para lhe mandar os detalhes e as perguntas gmail ou msn.Grato Adiministrador

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  2. P.S ESTOU TE SEGUINDO PARA MELHOR COMUNICAÇAO :D :D

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  3. Tudo bem, tudo bem, tudo continuará bem...

    É um dos meus fragmentos favoritos do Caio...

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  4. É preciso ter um amor muito bonito pra entender a delícia do aconchego quente de um ombro.
    Eu tenho um assim ^^

    bjinho caramelado.

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  5. Sem querer esbarrei aqui e me deparei com esse post lindo de Caio, mais que suficiente pra querer ficar e bisbilhotar todo o resto. Espero que não se importe...

    Iolanda Gomes

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