segunda-feira, 5 de julho de 2010

Cópia de ninguém

Katarina Sokolova
Ela me falou do tal amor sem toque. Desde então, meu mundo se revirou por inteiro. É que corpo é corpo e vida é o que corre nas minhas veias, é músculo, pele e respiração na nuca. Amor sem toque não existe. Amor de olhos, fantasia, idéias e vôos? Ora, eu disse a ela que isso é amor de freira, e que amor de mulher – mulher mesmo! – precisa mesmo é de um bom calor de baixo pra cima, de cima pra baixo, de cá pra lá, de lá pra cá. E ela riu. Riu e continuou amando, na sutileza de seu olhar – tão feminino quanto o meu, dourado feito borboleta. Persistiu no desejo, na ânsia, seguiu intensa feito a amante do pianista de bordel. O bordel, sabe? Aquele que ela inventou em um de seus vôos. Voou para o pecado e encontrou mais um pedaço de sua santidade. Era úmida e quieta, era tão mulher que gozava ao sonhar. De ventre e imaginação; invisível de corpo, plena de visão. Via sem ser vista, amava sozinha, era fêmea em segredo. Assim são os que ainda não foram traçados como iguais pelo desenho repetido do nosso olhar mundano. Eu sou cópia de quase todo mundo. Ela era ainda cópia de ninguém.

Carla Jaia

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