sábado, 8 de maio de 2010

Alone Gut
Quem nos quiser amar agora terá de vir com calma, terá de vir com jeito. Somos um território mais difíicil de invadir, porque levantamos muros, inseguros de nossas forças disfarçamos a fragilidade com altas torres e ares imponentes.
Quem quiser vir agora terá de ter paciência: estamos mais ariscos, a pele é fina demais, qualquer sopro pode abrir feridas no coração.

Fingimos dormir, muitas vezes; outras rimos para que o sentimento não retorne: aquele que nos deixou em êxtase e nos jogou no poço de onde foi duro voltar.

É verdade que guardamos na gaveta cristais transparentes e coloridos, que nos iluminam a cara sempre que espiamos: são as memórias, são os belos momentos, são as palavras que eram verdadeiras quando pronunciadas.

Mesmo assim, não custa dar um aviso, para que ninguém, chegando perto, se machuque por nossa causa: um dia voltamos, um dia conseguimos, um dia alguém nos desperta desse sono falso e dessa fingida distância que nosso olhar, mais vezes do que desejamos, acaba negando.

Lya Luft, in: Secreta Mirada. Ed. Mandarim

6 comentários:

  1. Estou muda.
    Deixa eu ficar assim..?

    Quero ler isso aqui quantas vezes mais eu quiser. É belo.

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  2. é um pouco difícil deixar as lembranças ruins aparecerem em nossa vida, em nossa mente. Ainda bem que temos a gaveta cheia de boas lembranças, o ruim é quando abrimos a gaveta errada.

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  3. Apreco muito a literatura de Luft. Este texto é de silenciar, um impacto.

    Abraços!

    Priscila Cáliga

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  4. Vim até aqui...
    para te trazer gentilezas...
    e beijos gentis...
    Leca

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  5. puxa vida, dessas coincidências bonitas da vida eu ler isso nesses tempos. *-*

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  6. A Lya tem essa propriedade para falar de amor. Algo que não só disperta nossa sensibilidade, como nos cala, nos deixa sem qualquer reação, apenas calados, se refletimos? acho melhor dizer: ficamos no absurdo!
    Lindo texto!
    Obrigado por colorir com palavras a minha vida!
    Um carinho!
    Mell

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