A pedra morna de sol sob as minhas costas. Os garis limpam os restos da feira. Encosto a cabeça no tronco da árvore. Fecho os olhos, ofuscado pelo excesso de luz. Dificil conciliar a manhã de fora com a treva de dentro. Respirar é uma oração que nada pede, Obá humilde. Continua, já ultrapassaste o meio, não tens mais o que temer. Repara, agora é como o centro escuro da noite. O próximo movimento só pode ser em direção à luz. Ele brilhava, ele era claro, ele era feito de sol. Todos queriam não estar ali. Não se deve, não se pode querer estar em outro lugar além do que se está. Eles desejam coisas que não existem. Eles não conhecem a paixão, nem tu. A tudo isso eu chamo tontura, não prazer. Evita a vertigem. Resseca, desbasta, o limite é a nudez do osso. Além dele, se avançares, há somente poeira. Mas cuidado, exigem-se os dentes fortes que Nanã perdeu. Descobre, desvenda. Há sempre mais por trás. Que não te baste nunca uma aparência do real. Como te atreves a supor que carregas O Facho de Luz? Sei bem quanto brilha, mas te digo que serias incapaz de vencer as Iansãs do vento.
Caio Fernando Abreu, in: Triângulo das Águas. Ed. Agir
Caio Fernando Abreu, in: Triângulo das Águas. Ed. Agir
ai Caio, sempre Caio a cada dia que leio algo dele, que ainda ñ li....fico impressionada!
ResponderExcluirBela imagam...!
ResponderExcluirBelo texto...!
Caio, sempre perfeito! E haja Iansã pra causar trovões e rebuliço no mar...
ResponderExcluirde arrepiar.
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