sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Psicologia de um vencido

Amadeo de Souza Cardoso
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundíssimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme — este operário das ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!

Augusto dos Anjos

Um comentário:

  1. Ah, Augusto!Meu poeta estranho preferido^^
    Adoro seus sonetos!!!Amo a linguagem que ele usa...
    simplesmente singular.

    Mikaelly Andrade.
    www.mikaelly-andrade.blogspot.com

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