domingo, 3 de agosto de 2014

Canção da manhã

Giulia Bersani
12 de dezembro de 1962
Cinco e meia da manhã
Londres

[...] Mas hoje alguma coisa está mudada. E não é só pela noite tranquila, por ter se mexido tão livremente quanto um peixe durante o sono. Poderia alguém chamar de felicidade o que ela começou a sentir ao acordar nesse instante, com a luz de rubi irradiando-se sobre a pele fina dos olhos fechados? Talvez não, mas de algo próximo, embora mais vazio, experimental e apenas vagamente perceptível: serenidade. Curiosidade? Impressionante: ela acabara de voar diretamente dos confins absolutos do sono até algo que poderia mesmo ser definido como prazeroso. Ou normal: acordar como os outros, em dias normais. Ou expectante, em antecipação às coisas boas. Comparada ao seu costumeiro desespero de fim de tarde, essa sensação parecia certamente otimista, desprendida como um balão fugitivo - uma sensação quase igual à que se experimenta nos primeiros dias de paixão.

Kate Moses, in: Inverno. Tradução de Ana Carolina Mesquita. Ed. A Girafa

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