segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

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Édouard Boubat
A escrita é a minha primeira morada de silêncio
a segunda irrompe do corpo movendo-se por trás das palavras
extensas praias vazias onde o mar nunca chegou
deserto onde os dedos murmuram o último crime
escrever-te continuamente… areia e mais areia
construindo no sangue altíssimas paredes de nada

esta paixão pelos objectos que guardaste
esta pele-memória exalando não sei que desastre
a língua de limos

espalhávamos sementes de cicuta pelo nevoeiro dos sonhos
as manhãs chegavam como um gemido estelar
e eu perseguia teu rasto de esperma à beira-mar

outros corpos de salsugem atravessam o silêncio
desta morada erguida na precária saliva do crepúsculo

Al Berto, in: O Medo. Ed. Assírio & Alvim

3 comentários:

  1. Ao passar pela net encontrei seu blog, estive a ver e ler alguma postagens
    é um bom blog, daqueles que gostamos de visitar, e ficar mais um pouco, espalhava-mos sementes de cicuta pelo nevoeiro dos sonhos...também escrevo poesia mas um pouco diferente.
    Eu também tenho um blog, Peregrino E servo, se desejar fazer uma visita
    Ficarei radiante se desejar fazer parte dos meus amigos virtuais, saiba que sempre retribuo seguido também o seu blog. Deixo os meus cumprimentos e saudações.
    Sou António Batalha.

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  2. que belíssimo!

    vontade de ler reler ler e ler novamente...

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  3. Olá, Seguindo o blog, adorei.
    Lindoooooo!

    (Comente e Siga-me)

    http://marcellyrosa.blogspot.com.br/ M.R ♥

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