segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Os namorados pobres

O namorado dá
flores murchas
à namorada
e a namorada come as flores
porque tem fome

Não trocam cartas
nem retratos nem anéis
porque são pobres

Mas um dia
têm muito medo
de se esquecerem
um do outro
então apanham
um cordel
do chão
cortam o cordel
e trocam alianças
feitas de cordel

Não podem
combinar encontros
porque não têm
número de telefone
nem morada
assim encontram-se
por acaso
e têm medo
de não se voltarem
a encontrar

O acaso
naõ os favorece

Decidem nunca sair
do mesmo sítio
e ficarem sempre juntos
para não se perderem
um do outro

Procuram um sítio
mas todos os sítios
têm dono
ou mudam de nome

Então retiram
dos dedos
os anéis de cordel
atam um anel
ao outro
e enforcam-se

Mas a namorada
tem de esperar
pelo namorado
porque o cordel
só dá par[a] um
de cada vez

O namorado
descansa à sombra
da figueira
e a namorada
baloiça
na figueira

O dono da figueira
zanga-se
com os namorados pobres
porque julga
que estão a roubar figos
e a andar de baloiço

Adília Lopes

2 comentários:

  1. Lindo poema, Jenifer.!
    E pensei muito na Adília hoje, por causa de um poema dela
    que até hoje não publiquei porque não achei uma imagem para ele.
    A não ser as mais óbvias, como acaba sendo o meu feitio.
    Bom ler um poema tão bonito e (de alguma forma) diferente do que já li da Adília.
    Belo mesmo! Bjs,
    Carol

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  2. saudades tuas, baby! besos!
    líria porto

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