Sampa, 28 de maio/84.
Luciano, querido,
foram muitas correrias, não deu pra gente se ver nem falar direito. Pena. Mas there will be time, there will be time. Cheguei quarta de Porto, na quinta fui para Piracicaba (foi ótimo), voltei sexta e ontem, domingo, mudei.
A casa — bem, a casa é ótima! Simpaticíssima e grande, tem dois quartos aqui dentro, mais dois lá fora e — pasme — uma roseira no pátio. Ricardo Blat vem amanhã do Rio para tratarmos das coisas objetivas, aluguel, contas. Eu meio perdido em relação às coisas tipo cai-na-real, mas com uma certeza boa & inabalável que tudo- tudo-vai-dar-pé.
E vai. Minha sinopse foi aprovada por Bruna/Ricceili/Guga, virou pré-roteiro para talvez inaugurar a série. Hoje tem reunião e, a partir do dia 10, já começamos a receber. Estou ainda na função de desarrumar malas e arrumar cantinhos, não tive tempo para pôr no papel as histórias para Regina. Mas vai sair.
Hoje é o primeiro dia que fico só em cerca de 20 dias.
Tenho aprendido coisas que ainda estão vagas dentro de mim, mal comecei a elaborá-las. São coisas mais adultas, acho. Tem sido bom. Amigos cintilam em volta, estendem a mão na hora certa. Você vai se enriquecendo em fé. Carta rapidinha & dispersa. Estou a postos para a estréia de Reunião ¹ — dia 13 tenho que estar em Londrina para uma palestra, dia 14 estarei aí, morto de saudade & curiosidade.
A cidade está inacreditavelmente cheia de shows e filmes e peças — tem de Alberta Hunter a Arrigo Barnabé, passando por Caetano, Nana, Marina e até Belchior (de volta: Tania Faillace gostaria). Fui ver Christine, a história do automóvel tarado, e adorei. Vi Purgatório, do Mário Prata, mas é abobrinha demais.
Pessoal dos Morangos entusiasmado: pintou $ para a produção e já estão fazendo ensaios corridos. Amanhã começo a acompanhá-los.² Venha quando quiser, ligue, chame, escreva — tem espaço na casa e no coração, só não se perca de mim. Vai a nova direção, votos de bons ensaios e um grande beijo do seu
Caio F.
PS — Beijo no Emesto
¹ Trata-se da peça Reunião de família, adaptada por Caio do romance homônimo de Lya Luft e dirigida por Luciano Alabarse, tendo no elenco Clélia Alabarse, Eliane Steinmetz (a Gorda) e Ivan Matos, entre outros.
² Morangos mofados foi levado à cena em 1985, com direção de Paulo Yutaka.
Caio Fernando Abreu, in: Cartas. Org. Italo Moriconi. Ed. Aeroplano
caio sempre tocante, relevante e sensível.
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