terça-feira, 11 de dezembro de 2012

A Maria Adelaide Amaral

Porto Alegre, 26 de agosto de 1983 

Levinha, querida,

depois de 10 anos de proibição pela censura, saiu, vai aí o programa. Sou suspeitos claro, mas acho lindo. Tem tido casa cheia toda noite, crítica boa, aplausos em pé, aquelas coisas.¹ Ando comovido e feliz. Vim para a estréia, aí recebi tanto carinho que fui ficando até hoje. Só volto pro Rio dia 5. 

Aproveito e mando, no fim da carta, o endereço de lá. Tá tudo indo bem. Minha cabeça melhorou demais com a saída de Sampa. Estou no momento mergulhado na revisão das últimas provas do livro novo, o Triângulo das águas, três novelas que chamo de “noturnos”, a sair em outubro pela Nova Fronteira. Tem várias homenagens, uma delas a você... Reticências de suspense! 

Escrevo meio na corrida, pra aproveitar um embalinho de saudade forte. 

Outra noite, em Gramado, falei horas sobre você. Me dê notícias, pro Rio ou pra cá (o fone daqui é 0512-33-4197). Dá um beijo em Murilo e um abraço nos guris. Diga, por favor, a Bel que penso nela com freqüência e mando nice vibs. Que você esteja feliz, em paz, produzindo. 

Todo o carinho do seu velho

Caio F. 
(o primo intelectualizado de Christiane) 

¹ Caio refere-se à montagem de sua peça Pode ser que seja só o lei eiro lófora, dirigida por Luciano Alabarse, na Casa de Cultura de Porto Alegre, após dez anos de proibiçao pela Censura do regime militar.

Caio Fernando Abreu, in: Cartas. Org. Italo Moriconi. Ed. Aeroplano

Um comentário:

  1. [...] Escrevo na corrida.. um embalinho de saudade forte.

    Caio - preciso ler algo

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