Eu era apenas quanto
a tua mão tocasse
ou sobre o que inclinavas,
no breu da noite, a face.
Eu era, embaixo, quanto
notavas turvo, apenas:
traços, no início, vagos;
feições, mais tarde, plenas.
Foste quem logo, ardente,
criou-me a sussurrar,
seja à direita, à esquerda,
a concha auricular.
Foste, a agitar cortinas,
quem, na umidade cava
da boca, introduziu-me
a voz que te chamava.
Eu era cego e, vindo,
sumindo-te de mim,
doaste-me a visão.
Fica um vestígio, assim.
E, assim, criam-se mundos
que são postos de lado,
girando, quando prontos,
presente abandonado.
Em meio, pois, de treva
e luz, calor e frio,
prossegue o nosso globo
seu giro no vazio.
Joseph Brodsky, in: Quase uma Elegia / Tradução de Boris Schnaiderman e Nelson Ascher
*Vídeo: Fragmento da biografia de Joseph Brodsky (Um Quarto e Meio - Poltory Komnaty Ili Sentimentalnoje Putesestvije Na Rodinu, 2009). Direção de Andrey Khrzhanovskiy
Lindo, lindo!!!
ResponderExcluirtudo lindo por aqui...
Saudades que estava de teu reino...
Manda pra mim este poema?
Amo Brodsky!
Beijos, Felicidade