sexta-feira, 13 de julho de 2012

Eu era apenas quanto



Eu era apenas quanto
a tua mão tocasse
ou sobre o que inclinavas,
no breu da noite, a face.

Eu era, embaixo, quanto
notavas turvo, apenas:
traços, no início, vagos;
feições, mais tarde, plenas.

Foste quem logo, ardente,
criou-me a sussurrar,
seja à direita, à esquerda,
a concha auricular.

Foste, a agitar cortinas,
quem, na umidade cava
da boca, introduziu-me
a voz que te chamava.

Eu era cego e, vindo,
sumindo-te de mim,
doaste-me a visão.
Fica um vestígio, assim.

E, assim, criam-se mundos
que são postos de lado,
girando, quando prontos,
presente abandonado.

Em meio, pois, de treva
e luz, calor e frio,
prossegue o nosso globo
seu giro no vazio.

Joseph Brodsky, in: Quase uma Elegia / Tradução de Boris Schnaiderman e Nelson Ascher

*Vídeo: Fragmento da biografia de Joseph Brodsky (Um Quarto e Meio - Poltory Komnaty Ili Sentimentalnoje Putesestvije Na Rodinu, 2009). Direção de Andrey Khrzhanovskiy

Um comentário:

  1. Lindo, lindo!!!
    tudo lindo por aqui...
    Saudades que estava de teu reino...
    Manda pra mim este poema?
    Amo Brodsky!
    Beijos, Felicidade

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