a solidão pode ser um presente. ela obriga ao silêncio, que é a melhor resposta para grande parte das perguntas. obriga ao espaço mais amplo e mais vazio, onde o corpo respira com mais extensão e mobilidade. ela nos faz ouvir a respiração, ver melhor a pupila azul da gata. ela dá mais peso e espessura ao tempo e quase é possível ouvi-lo passar. ela é cerimoniosa e não convencional como os encontros fortuitos. ela é uma companhia que vai se descobrindo aos poucos, sempre cheia de novidades e seus segredos só se revelam com muito cuidado e graça. ela habita a noite, mas vem me visitar também durante o dia, especialmente às tardes. senta embaixo do armário do corredor e quando eu a avisto, digo: olá, solidão, entre no meu quarto, você quer um café? ela nunca quer, não gosta de incomodar.
Noemi Jaffe
Noemi Jaffe
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