A gente fala é pra fundar memória, ou seja, pra esquecer o inesquecível, pra não lembrar das coisas muito importantes, muito belas, muito horrendas, não tecíveis, não nomeáveis, não nós, desnoveladas, somente nuas e elas próprias. A gente fala pra poder discutir se Deus existe ou não, pra se perguntar o que é a vida, pra falar do pai, da mãe, pra bendizer a filha, pra conversar e versar acerca das mãos roxas da avó morta, da solidão da criança diante disso. A gente fala pra oralizar o corpo, dizê-lo, torná-lo imaginariamente som e forma ecoando para sempre, para o ser humano, sempre curto, mas de um doloroso quase suportável, um pouquinho apenas mais do que farpa entre unha e carne. Sol entalado no coração - que coisa mais bela o indizível - empalavrado, permanecendo indizível.
Wesley Peres, in: Casa entre Vértebras. Ed. Record
É... "A gente fala é pra fundar memória". E escreve pra eternizar o inesquecível, né? Wesley me parece usar a palavra feito uma lâmina, dissecando significados. É tanta coisa sendo dita ao mesmo tempo... Como "sol entalado no coração". Adoro essa forma de conduzir do Wesley.
ResponderExcluirAmei o fragmento escolhido.
Beijos
Muito bem escrito, filosofia. Um abraço, Yayá.
ResponderExcluirPoxa vida, que trecho bonito!
ResponderExcluirLinda escolha, Jeni! Gostei muito:
"(...) Sol entalado no coração - que coisa mais bela o indizível - empalavrado, permanecendo indizível."
a gente fala porque o silêncio é pior...
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