domingo, 20 de novembro de 2011

texana

Egon Schiele
ela é do Texas e pesa
47 quilos
e para em frente ao
espelho penteando oceanos
de cabelos ruivos
que descem ao longo de todas
suas costas até a bunda.
o cabelo é mágico e lança
faíscas quando me deito na cama
e a vejo penteá-los.
ela parece uma criatura
saída de um filme mas está
aqui de fato. fazemos amor
pelo menos uma vez por dia e
ela consegue me fazer rir
sempre que deseja.
as mulheres do Texas são sempre
saudáveis e, além disso, ela
limpa meu refrigerador, minha pia,
o banheiro, e faz comida e
me serve alimentos saudáveis
e lava os pratos
também.

‘‘Hank’’, ela me disse
segurando uma lata de suco
de uva, ‘‘este é o melhor de
todos’’.
dizia na lata: suco natural de uva
ROSA do Texas.

ela se parece com Katherine Hepburn
na época
do ensino médio, e vejo esses
47 quilos
penteando um metro
de cabelo ruivo
diante do espelho
e a sinto dentro de meus
pulsos, e no fundo de meus olhos,
e os dedos e as pernas e a barriga
a sentem, assim como
aquela outra parte,
e toda Los Angeles se desfaz
e chora de contentamento,
as paredes das alcovas tremem –
o oceano invade tudo e ela se vira
e me diz, “maldito cabelo!”
e eu digo,
“sim”.

Charles Bukowski, in: O Amor é Um Cão dos Diabos. Tradução de Pedro Gonzaga. Ed. L&PM

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