O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
- porque o poema, senhores,
está fechado:
"não há vagas"
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não fede
nem cheira.
Ferreira Gullar, in: Dentro da Noite Veloz / 25.5.63
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
- porque o poema, senhores,
está fechado:
"não há vagas"
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não fede
nem cheira.
Ferreira Gullar, in: Dentro da Noite Veloz / 25.5.63
De um dos meus livros preferidos,
ResponderExcluirperfeita, e atual, lembrança.
Ferreira Gullar, maravilhoso poeta, sempre traduzindo nosso cotidiano atroz dentro da noite veloz.
ResponderExcluirGosto de mais! Muito bom.
ResponderExcluirahhh que maravilhaa!,
ResponderExcluirdia desses estava refletindo sobre a minha também apertada vida financeira lembrei desse poema e cheguei a conclusão:
o salário mínimo - quizá micro - não cabe no poema
^^