sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Entre o ser e as coisas

Amanda Cass
Onda e amor, onde amor, ando indagando
ao largo vento e à rocha imperativa,
e a tudo me arremesso, nesse quando
amanhece frescor de coisa viva.

As almas, não, as almas vão pairando,
e, esquecendo a lição que já se esquiva,
tornam amor humor, e vago e brando
o que é de natureza corrosiva.

N'água e na pedra amor deixa gravados
seus hieróglifos e mensagens, suas
verdades mais secretas e mais nuas.

E nem os elementos encantados
sabem do amor que os punge e que é, pungido,
uma fogueira a arder no dia findo.

Carlos Drummond de Andrade, in: Claro Enigma. Ed. Record

2 comentários:

  1. "uma fogueira a arder no dia findo"



    ...é incrível, sempre que leio Drummond vejo o mérito do poeta!


    Beijo, flor.

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