segunda-feira, 20 de junho de 2011

2.5

Ando muito completo de vazios.
Meu órgão de morrer me predomina.
Estou sem eternidades.
Não posso mais saber quando amanheço ontem.
Está rengo de mim o amanhecer.
Ouço o tamanho oblíquo de uma folha.
Atrás do ocaso fervem os insetos.
Enfiei o que pude dentro de um grilo o meu destino.
Essas coisas me mudam para cisco.
A minha independência tem algemas.

Manoel de Barros, in: O Livro das Ignorãças. Ed. Record

6 comentários:

  1. Gosto tanto de passar por aqui e ler essas delícias que sempre nos deixam com gosto de "quero mais"!


    Abraço, querida!

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  2. As vezes sinto como se estivesse sendo transcrita em palavras. Respirar fundo e seguir com os passos é só o que posso eu fazer por agora. rs


    bacio

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  3. Ando completa de vazios tbm.

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  4. ótimo Manuel de Barros..

    que bom que a senhorinha gostou das palavras lá (:

    até!
    um beijo

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  5. Adoro Manoel de Barros! Ele é de uma doçura carregada de infinitos significados...

    Beijo!

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