domingo, 1 de maio de 2011

Correspondência

por favor, não pare de me falar sobre você
nos ligamos — convites anelados
beijos são palavras abertas
eletricidade escapa, cabos se partem
em que parte te encontro?
não confie na memória
ela é um correio lotado de cartas brancas
não suspire
o tempo é corrosivo porque mora nos silêncios
de repente enferruja cartas cabos lábios
enferruja a gente
não é certo não é certo, suspiro
toques me despertam
mãos de prata como bandejas
e debaixo da mesa pernas encontram pernas
vamos arquitetar uma fuga com elas
arquitetar uma ponte e envelhecer sem segredos
temo que seja o fim da ligação
terrível enxaqueca
poupe os anúncios em branco
anúncios são convites malcriados
anoto na passagem: preciso de um mapa
nossa correspondência está aos pedaços
quem leu a última parte?
você sempre faz mapas quando está triste?
é o fim. Não confio na memória.

Juliana Bernardo

4 comentários:

  1. Quem leu a última parte? Não sei... Até hoje, não sei

    =(

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  2. Não quero só memórias...Amei...

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  3. Temos que ter alguns mapas em mãos, afinal quando amamos aprendemos a voar e esquecemo-nos do chão.

    O mapa bem que podem ser as cartinhas apaixonadas...

    Lindo, lindo post!

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  4. Lindo seu Blog.Estive aqui de passagem e adorei.Memórias quem não as tem? O que vale realmente são os momentos vividos.Aquele espaço de tempo precioso,inesquecível e que desejamos que seja infinito. Parabéns pela tua sensibilidade.Felicidades e... na tua alma a eterna primavera.Deixo no meu Blog à tua disposição, de presente, um selo de "Blog Nota 1.000".É só copiar.Este Blog merece esta distinção. Um grande abraço.

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