sábado, 5 de fevereiro de 2011

(Trecho de carta, sem data, esquecida entre as folhas de um relatório:

Nonnetta
[...] você é amável, educado, mas sempre distante, sempre na defensiva contra qualquer espécie de relacionamento que possa ou pareça implicar algum compromisso. E, entretanto, eu te amo da maneira mais desinteressada possível: jamais quis ou esperei receber qualquer coisa. Sua posição não me deslumbra, seu prestigio nada significa para mim. Gosto de você, apenas.

O que não consigo entender é a rapidez com que murcha e se deteriora uma emoção que parecia profunda. O que não consigo entender é o súbito e imprevisível fim de um entusiasmo que se mostrava imenso. Recuso-me a aceitá-lo como um farsante. Bem sei que tudo apodrece com o decorrer do tempo. Mas, frequentemente, a corrosão é gradativa, a não ser que outros fatores apressem o fim; o que não foi o caso, nem tempo houve para tanto. É inexplicável para mim...)

Ela jamais conseguiria entender. Inútil qualquer explicação, nem tentaria. Se para si próprio não conseguiria explicar, como iria fazê-lo para outra pessoa? Às vezes, em noites de insônia, procurava chegar às origens desse fastio, desse desencanto brusco e prematuro. Fazia mil conjecturas [...]

Anna Maria Martins, do conto: HD41 - em O Conto da Mulher Brasileira. Org. Edla van Steen. Ed. Global

Um comentário:

  1. Gosto de você, apenas.

    Tante gente assustada por aí...

    http://vemcaluisa.blogspot.com/

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