quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

"Sabe Madalena, que nunca mais nos veremos? De nada adianta tudo o que sentimos agora. Dentro de um ano... dois anos, tudo estará morto, não seremos mais do que duas desconhecidas". A face molhada de lágrimas desaparecia vagarosamente. Madalena sentia-se assaltada por uma atroz melancolia. Percebia que ela, como todo mundo, não era formada senão pela marca que deixam as pessoas passando em nossa vida. Na sua, todos tinham sido arrastados pela voragem do tempo; ficara a memória a viver a sua existência de farrapos, encarcerando-a para sempre ao sentimento de que nada vale senão pela experiência que fica. Tudo o mais é tolice, é vento que passa, sem deixar mais do que um rastro fugidio [...].

Lúcio Cardoso, in: A Luz no Subsolo. Ed. Expressão e Cultura

3 comentários:

  1. e é de tolices que se faz uma vida.

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  2. Lucio Cardoso é uma tecelão da alma humana. Li esse livro há muitos anos, esse fragmento meu de vontade de ler mais Lucio.

    Abraços

    http://www.sabordaletra.blogspot.com/

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